Sempre achei que amamentação era só colocar o bebê no peito que ele começava a sugar o leite sozinho. Via as mães colocando o bebê para mamar com tanta facilidade que eu nunca poderia imaginar o quão difícil seria.
Durante minha gravidez, participei de alguns cursos de gestante, tive doula e, mesmo assim, sempre achei meio exagerado aquela fala repetitiva sobre amamentação. Achava a pega tão simples de fazer (na mama de crochê), que não via problema nenhum. Até que meu filho nasceu.
Ficamos em um hospital que prioriza a amamentação na primeira hora de vida do bebê. Saímos da sala de cirurgia e, já no pós-cirúrgico, uma enfermeira colocou meu filho dentro do meu top para mamar. E, magicamente, ele mamou. Pensei: “caramba, é fácil mesmo”. Mas, logo na segunda mamada, percebi que tinha alguma coisa errada com ele – ou com meu seio. Era uma sensação de belisco, que queimava, ardia. E só foi piorando a cada mamada ao ponto de eu chorar quando ele queria mamar. Foi muito difícil! E junto com o desespero da amamentação, ele passou sua primeira noite de vida acordado, chorando. Não tive dúvidas: pedi para o meu marido comprar uma chupeta.
Coloquei na minha cabeça que se não desse certo ele só ia mamar durante um mês. Tivemos muita dificuldade com a pega correta por aqui. Demorou para ele conseguir acertar e esse período foi bem complicado. Acabei optando por usar o bico de silicone – devido aos machucados que tive na mama – e decidi que dessa forma poderia amamentar até os três meses de vida do meu bebê.
Planejei tudo isso sozinha. Resolvi comigo mesma, sem contar para ninguém e sem saber se era o melhor para a saúde do meu filho. Eu só pensava na dor que eu não queria mais sentir. Até que, com um mês e meio ele acertou a pega e, ufa, aquele pesadelo passou. Porém, ele apresentou sinais de desnutrição e icterícia do leite materno e eu tive que introduzir a fórmula também. Então, estipulei um novo prazo: amamentar até os seis meses.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda-se o aleitamento materno por dois anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros seis meses. E eu consegui! Cheguei aos seis meses com muito leite materno e uma sensação de alívio enorme. Sensação de dever cumprido, mesmo fazendo complementação com fórmula.
Até o quinto mês meu filho mamava normalmente em livre demanda e na mamadeira. Porém, nesse mesmo período, ele começou a procurar menos o peito, mamar menos tempo a cada mamada e chorar muito querendo a mamadeira. Foi aí que eu comecei a lembrar do que eu ouvia nos cursos, nos livros, com a minha doula, sobre a famosa confusão de bicos. Fiquei quase desesperada em pensar que ele não queria mais mamar no peito. Fiquei triste. Arrasada! Comecei a pensar em formas de reverter esse quadro e descobri que era possível.
Segundo Cilaine Araújo, co-founder das Irmães Consultoria Materna, coach de mães e doula, o desmame natural pode ocorrer a partir de dois anos ou mais. Então, se uma criança menor que isso perde o interesse pelo peito e utiliza bicos artificiais (mamadeira e chupeta) é possível que esteja fazendo confusão de bicos. “Mas isso dá para reverter, principalmente se identificado precocemente (mudança na pega, pouco interesse pelo peito), com bastante disposição e dedicação da mãe. Quanto menor o bebê maior a importância do aleitamento materno”, afirma Cilaine.
Comecei a refletir sobre todo o processo de amamentação e percebi que, nós, mães, não podemos excluir ou fechar os olhos para possíveis hábitos que resultam no desmame precoce do bebê. Mas, calma. Não se culpe! Acredito que se você, assim como eu, introduziu a chupeta ou mamadeira para um recém-nascido, deve ter tido algum motivo. Insegurança, desnutrição, falta de paciência ou desespero durante noites em claro. Só que isso tudo não muda o fato de que a amamentação será prejudicada.
Ao introduzir diferentes bicos, mudamos o padrão de sucção do bebê. E, então, ocorre a chamada confusão de bicos. Isso resulta no bebê pegar e soltar o bico, chorar ao ser colocado na mama, não manter a pega por muito tempo, não sugar, morder o mamilo ou esvaziar a mama. Bicos artificiais são mais fáceis e soltam mais leite. O bebê quer o caminho mais fácil, por isso essa recusa acontece. É preciso muita paciência para fazer com que o bebê acalme e pegue novamente a mama.
“Se a mãe sente interesse em manter a amamentação, precisa retirar ou diminuir os bicos artificiais. O que pode exigir bastante dedicação, já que a rotina do bebê inclui os objetos de sucção auxiliares. Se o bebê tiver menos que seis meses, é preciso considerar a recomendação de aleitamento exclusivo, além de todos outros fatores relacionados a essa decisão”, explica a consultora materna.
Persistência, estudo e aquele pó mágico chamado amor
Algumas regrinhas são básicas, segundo Cilaine Araujo: ofereça várias vezes o peito, mas sem forçar; tente novas posições para amamentar. A produção de leite materno está relacionada ao estímulo. Quanto mais o bebê mama, mais leite a mãe vai ter.
Depois que meu filho nasceu eu virei uma devoradora de conteúdo materno. Mergulhei no universo que é a vida de um bebê. Entendi o que é puerpério, parto humanizado e todos os outros termos. Vi muitos documentários, séries e filmes. Estou sempre estudando sobre alimentação e tantos outros assuntos para poder ter escolhas conscientes.
Por aqui, oferecer o peito deitada tem dado certo. Também tiramos a chupeta durante o dia e diminuímos a quantidade de mamadeiras, tentando sempre priorizar o peito e as comidinhas da introdução alimentar. E, o mais importante: paciência. Comigo mesmo, com o meu bebê, com o nosso tempo – que é diferente um do outro. Hoje, entendo e priorizo o que é melhor para ele e não mais fácil para mim.
Estudar também é muito importante. Hoje temos acesso a muitas pesquisas atualizadas, que nos dão novas possibilidades de escolhas. Não precisamos seguir os padrões das nossas mães. E, infelizmente a maioria dos pediatras não são pró-amamentação.
Não se permita tomar decisões baseadas no medo do que os outros vão pensar de você. No final, quem sofre as consequências ou colhe os bons frutos das decisões é você. No fundo mesmo é sempre você e seu bebê. Então, siga sua consciência e lembre-se de que informação é tudo!
*Esse texto é um relato pessoal, com intuito de abraçar outras mães que se veem na mesma situação. Bicos artificiais não são indicados por órgãos que apoiam o aleitamento materno. O Ministério da Saúde adverte que o uso de mamadeira, bico de silicone ou chupeta podem prejudicar a amamentação e o uso prolongado prejudica também a dentição e a fala da criança.
Aline Almeida – Jornalista, especializada em relações públicas, empreendedora, esposa e mãe do Dudu de sete meses, que mama no peito em livre demanda, toma mamadeira, chupa chupeta na hora de dormir e começou a introdução alimentar comendo maravilhosamente bem.
Amei seu blog 🙂 Parabéns!!!
Muito obrigado Bélit!
Bom diaaa 😀 Que bom! Obrigada.