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Novembro dourado: saudade é o amor que fica

Há 3 anos

Sou Daniele. Esposa do Bruno. Mãe do Bruninho, Afonso e Antônia.

Em Maio do ano de 2013, Bruninho tinha 4 anos. Descobri que estava grávida novamente. Que momento feliz! Contamos ao Bruninho que ele teria um irmãozinho ou irmãzinha, e que ele como irmão mais velho seria muito amado e nos ajudaria com o bebê que estava a caminho.

Passaram-se alguns meses e descobrimos que nosso bebê que estava a caminho era outro menino, AFONSO, e assim contamos ao mano que começou a fazer muitos planos com a chegada daquele que ele já amava tanto, mesmo ainda estando dentro da barriga da mamãe. O cuidado comigo era imenso, o carinho interminável. Após o banho, as mãozinhas pequenas passavam o creme em minha barriga para que a pele aguentasse, mas principalmente para que mano sentisse lá de dentro todo o amor que era emanado aqui de fora!

Bruninho com os pais Bruno e Dani

Em setembro de 2013, eu então com 6 meses de gestação, Bruninho começou a sentir fortes dores abdominais. Sempre fomos uma família muito atenta, nunca deixamos para depois, principalmente questões relacionadas à saúde. Marquei uma consulta imediatamente e o levei. A médica que o atendeu solicitou alguns exames e receitou alguma medicação para alivio da dor. Os exames nem puderam ser concluídos, pois as dores aumentavam conforme os dias passavam. Paramos no plantão do Hospital em uma noite com Bruninho aos gritos de dor, vomitava e nada acalmava. Mais uma vez fomos medicados e encaminhados para casa.

Moramos no Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de São Borja. Em Setembro acontece a Semana Farroupilha, os festejos que comemoram o mês dos Gaúchos. Eu e o Bruno somos professores de Danças Tradicionais Gaúchas, e portanto, desde pequenos nos envolvemos muito neste mês.

Bruninho estava medicado. Ficava com minha mãe – Vovó Fátima – que cuidava com todo o amor, carinho e zelo enquanto não estávamos em casa. No dia 14 de setembro, segunda noite da Semana Farroupilha, estávamos encaminhando nossos alunos para uma apresentação quando ela me ligou que o Bruninho não estava se sentindo bem, estava com muita dor e ela não sabia mais o que fazer. Na mesma hora peguei o carro e fui ao encontro deles, enquanto o Bruno finalizava a apresentação com as crianças. O levamos ao hospital quando o médico plantonista o avaliou e solicitou internação para investigação do que estava causando tanta dor.

Neste momento começava nossa luta por descobrirmos o que estava fazendo nosso filho sofrer tanto. Alguns exames foram realizados em São Borja, até que um Ultrassom nos deu o rumo: irmos para Santa Maria (RS) enquanto “ainda houvesse tempo” – palavras do Médico Cirurgião, que já nos encaminhava ao Setor de Oncologia Pediátrica do Hospital Universitário de Santa Maria. Fomos no mesmo dia. Bruninho despediu-se das tias enfermeiras dizendo que ia à Santa Maria apenas comprar uma fantasia de Super Herói e logo voltaria.

No HUSM (Hospital Universitário de Santa Maria) mais exames, muitos outros exames. Os dias pareciam meses, perdemos a noção de tempo e espaço. Tudo que nos importava estava nos corredores gelados do HUSM. Nos dividíamos no Hospital: eu, Bruno, minha mãe, meu irmão Rafa (que mora em Santa Maria) e minha cunhada Ju, e logo em seguida minha sogra, que foi nos amparar e fortalecer. Após alguns dias o diagnóstico: LINFOMA DE BURKITT – um agressivo tumor, que cresce muito rápido e segundo o Médico Oncologista Pediátrico não havia explicações para o surgimento dele em nosso filho.

Bruninho já havia passado por muitos exames e alguns procedimentos cirúrgicos, estava com derrame pleural e precisou fazer uma drenagem. Foi optado então por não fazer a cirurgia naquele momento, pois perderíamos muito tempo em recuperação para iniciar o tratamento e portanto iniciou-se de imediato a quimioterapia. Bruninho já estava na UTI PEDIÁTRICA e entubado, pois a dor era grande e o deixava muito agitado. Neste momento, o Bruno era quem mais o acompanhava, eu, com 6 meses de gestação, tinha medo do que todo o estresse e sofrimento pudessem causar ao Afonso, dentro da minha barriga.

Meu esposo não foi apenas o PAI. Não cumpriu apenas com sua obrigação. Fez MUITO MAIS. Dormiu todas as noites com ele, caminhava madrugada adentro pelos corredores do hospital quando a dor era grande, dormia na brinquedoteca, quando Bruninho enfim se rendia pelo cansaço e conseguia dar um cochilo ou outro. Se Bruninho não bebia água, o Bruno também não. Foi um amor e um amparo vindo de Deus, de uma força sem igual, não esmoreceu nunca. Por mais retalhado que estivesse seu coração.

Além do Bruno não vou citar nomes para não acabar sendo injusta com ninguém, mas mais duas passagens são bem marcantes, a primeira (e única) quimioterapia que Bruninho fez foi acompanhado pela minha mãe, que o acariciou o tempo todo, suplicando a Deus que aquele “remedinho” o curasse.  A outra, na noite em que ele fez a quimio, meu irmão e dindo do Bruninho, Rafa, se ofereceu para ficar no hospital. O Bruno não queria, foi relutante, mas conseguimos convence-lo a ir para casa comigo descansar. Naquela noite, a ÚNICA em que Bruno não estava com ele, Bruninho partiu.

Seu coraçãozinho não suportou a quimioterapia que acabou liberando uma série de toxinas que fazem mal a vários órgãos, principalmente rins, pulmão e coração, chamada de Síndrome de Lise Tumoral. Bruninho Teve uma Lise Tumoral intensa, que levou a uma Parada Cardíaca.

O perdemos na manhã bem cedinho do dia 24 de Setembro de 2013. Foram apenas 10 dias de internação. Algo muito rápido, inesperado, doloroso e intenso! Fomos para Santa Maria em busca da cura e voltamos sem nosso filho, nosso amor, de apenas 4 anos e 8 meses. O perdemos para um tumor, que não sabemos o porquê surgiu, da onde veio, por qual razão justamente nele: uma criança saudável, forte, esperta, ativa…

Fica a certeza da importância da atenção que devemos ter aos nossos filhos, aos nossos corpos e aos sinais que eles dão. Nos primeiros momentos já buscamos ajuda. Se há uma coisa que nos conforta é saber que FIZEMOS TUDO QUE ESTAVA AO NOSSO ALCANCE. Se poderia ser diferente? Nosso coração por vezes insiste que sim, mas a Ciência nos prova que neste caso não.

O mais difícil é pensar que foram poucos anos de convívio… Haviam tantos planos, tantos sonhos… Mas a intensidade de tudo que vivemos foi algo que nos transformou para sempre, Amamos e continuamos a amá-lo todos os dias de nossas vidas, aprendemos muito mais com o Bruninho do que ensinamos e somos gratos a Deus pela grande dádiva que é sermos pais de um ANJO.

Em Dezembro daquele ano Afonso chegou, saudável, forte, lindo e cheio de vida, exalando o amor que o mano tinha por ele. A continuação da vida, a certeza de que há um propósito em tudo e de que devíamos seguir a diante, mesmo que com toda a dor!

Hoje Afonso tem 6 anos e temos a Antônia com 1 ano. Bruninho nunca será substituído, nem tão pouco esquecido. As lembranças de tudo que vivemos juntos, do jeitinho que ele falava e das coisas que fazia continuam vivas em nós. A dor aos poucos vai dando lugar a uma saudade boa, daquelas que a gente chega a sorrir quando lembra. Afonso sabe da existência do mano e o ama com todas as suas forças, mesmo sem ter tido tempo de conhecê-lo.

Um dia eu li, e assim o fiz: “Saudade é o amor que fica”.

Dani, Bruno, Afonso e a pequena Antônia

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